PODCASTO que o processo de aprendizagem de uma criança diz sobre sua saúde mental?

Assista no Youtube:

Ouça no Spotify:

 

Leia a coluna da semana (19/05/2025):

O que o processo de aprendizagem de uma criança diz sobre sua saúde mental?

Por Juliana Ramiro

No consultório, é comum que as crianças cheguem à terapia não por uma queixa subjetiva, mas por um “problema” identificado na escola — dificuldades de aprendizagem, comportamento desafiador, agitação em sala. A escola é, muitas vezes, o primeiro espaço a sinalizar que algo não vai bem. Mas o que esses sintomas escolares dizem sobre o mundo interno da criança?

Aprender é, antes de tudo, um processo psíquico. Envolve tentativa, erro, frustração e a capacidade de seguir tentando. Uma criança que não suporta se frustrar, que entra em colapso diante de um desafio, não está apenas “com preguiça” ou “sem interesse” — ela pode estar vivendo um sofrimento emocional que a impede de sustentar o processo.

A alfabetização, por exemplo, exige mais do que apenas reconhecimento de letras. Exige estrutura interna. A transição da letra bastão para a cursiva é uma conquista simbólica: ela demanda coordenação, encadeamento, fluidez — habilidades que dialogam diretamente com os vínculos afetivos que a criança estabelece. Conexões sólidas com figuras de cuidado são a base para conexões cognitivas saudáveis.

Uma criança que vive num ambiente inseguro — que sente medo em casa, que não conhece sua própria história ou é privada de escuta — dificilmente terá disponibilidade psíquica para aprender. Como poderá escutar a história do outro, ou narrar a sua própria, se sequer teve espaço para organizar sua subjetividade?

O psicanalista Donald Winnicott dizia que toda criança possui um potencial inato de desenvolvimento — o que o meio precisa é não atrapalhar. Quando uma criança não acompanha o ritmo escolar, não é raro que ela esteja nos dizendo, com seu sintoma, que o ambiente falhou. O problema não está na criança, mas no entorno: currículo, cultura escolar, família, sociedade.

A criança, assim, se torna sintoma do seu meio. E trava.

Por isso, quando um aluno não aprende, não basta aumentar a carga de tarefas ou insistir em métodos padronizados. É preciso escutá-lo. Escutar com atenção, inclusive, o que ele não diz com palavras. Escutar seus desenhos, seus jogos, seus silêncios. É também nesse processo que se abre espaço para o cuidado.

Muitas vezes, a superação dessas dificuldades exige uma aliança: família, escola, terapia. Cada qual com sua função, mas unidas pelo mesmo objetivo — permitir que a criança encontre os caminhos de seu próprio desenvolvimento, reconectando-se consigo mesma e com os outros.

Para aprofundar essa reflexão, no episódio desta semana do Psi Por Aí, conversei com a psicóloga e psicanalista Magda Colao, autora do estudo “Psicanálise e Alfabetização: Édipo entrelaça escrita cursiva e linguagem”. Um encontro potente entre linguagem, subjetividade e educação.

Para preservar a identidade e privacidade dos pacientes, os casos apresentados neste artigo são reais, com seus personagens adaptados.

 

Texto publicado originalmente no Litoral na Rede: https://litoralnarede.com.br/tag/saudemental/

Acompanhe nas redes sociais:
https://www.instagram.com/podcastpsiporai
https://www.facebook.com/profile.php?id=61558406494094

 

Este episódio tem o apoio de:
Litoral na Rede – https://litoralnarede.com.br/
Sindifars – https://sindifars.com.br/
Espaço Âme – https://www.instagram.com/espacoame.rs/