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Leia a coluna da semana (06/01/2025):
O que um bebê precisa para se desenvolver?
Por Juliana Ramiro*
O que faz um bebê se tornar um ser humano? Embora sejamos considerados a espécie mais evoluída, os bebês humanos estão entre os mais dependentes ao nascer. Diferentemente de outros animais, que muitas vezes conseguem andar ou se alimentar sozinhos poucas horas após o parto, o ser humano nasce frágil e totalmente dependente de cuidados. Essa dependência vai muito além de comida, higiene ou abrigo — é no toque, no olhar e nas interações que o bebê começa a se desenvolver como um ser humano.
Afinal, não nascemos “prontos” para a vida social. Aprendemos a ser humanos convivendo com outros humanos. É o encontro com a família, e posteriormente com a escola, que permite ao bebê acessar o mundo das relações, do desejo e da linguagem. Esse desenvolvimento, no entanto, não depende de perfeição, mas de algo que o psicanalista Donald Winnicott chamou de “uma mãe suficientemente boa”. O que isso significa?
A mãe suficientemente boa é aquela que oferece cuidado sem sufocar, que acolhe o bebê em suas fragilidades, mas também sabe frustrá-lo no momento certo. Ela empresta seu psiquismo para o bebê enquanto ele ainda não tem estrutura própria para lidar com o mundo, mas pouco a pouco permite que ele descubra sua própria forma de pensar, sentir e agir. Não é sobre ser perfeita, mas sobre estar presente de forma sensível, permitindo que o bebê se desenvolva com autonomia.
Winnicott descreveu estágios do desenvolvimento infantil que exigem diferentes formas de cuidado. No início, o bebê precisa de um ambiente que atenda quase todas as suas demandas, mas, aos poucos, a mãe (ou figura de cuidado) precisa se afastar gradualmente, oferecendo espaço para que ele experimente sua própria capacidade. É nesse equilíbrio entre acolhimento e autonomia que a autoestima começa a se formar. Uma mãe superprotetora pode ser tão prejudicial quanto uma mãe ausente, pois ambas comunicam ao bebê que ele não pode confiar em si mesmo.
Você já pensou sobre como oferece autonomia para o seu filho? Ou se a escola onde ele está matriculado incentiva essa autonomia? Uma das grandes mensagens de Winnicott é que as crianças têm um poder incrível de se desenvolver por si mesmas, desde que o ambiente não atrapalhe. Quando confiamos na capacidade de nossos filhos, estamos dizendo a eles que acreditamos na sua força — e essa mensagem é fundamental para o crescimento.
Pontalis, outro importante psicanalista, disse que curar-se é mudar de lugar. No vínculo entre mãe e bebê, essa “cura” ocorre dos dois lados: o bebê cresce, aprende a ser ele mesmo, enquanto a mãe também se transforma na relação. Esse vínculo não precisa ser perfeito, mas precisa ser suficientemente bom para permitir a evolução de ambos. E se, em algum momento, percebemos que estamos atrapalhando mais do que ajudando, sempre há tempo de mudar, de oferecer outra possibilidade de relação.
Vamos conversar sobre este tema? No episódio desta semana do nosso podcast, recebo a psicanalista e arte terapeuta Sabrina Sironi para aprofundar essa discussão. Vamos falar sobre o papel da mãe, da escola e das figuras de cuidado no desenvolvimento infantil. É sempre tempo de olhar para nossas relações e nos perguntar: estamos sendo suficientemente bons?
* Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura.
Texto publicado originalmente no Litoral na Rede: https://litoralnarede.com.br/o-que-um-bebe-precisa-para-se-desenvolver/
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