PODCASTOs Lutos Reais e Simbólicos

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Leia a coluna da semana (9/12/2024):

De quantos lutos é feita a vida?

Por Juliana Ramiro*

O luto é uma experiência universal e, ao mesmo tempo, profundamente singular. Todos nós, em algum momento da vida, enfrentamos a perda de algo ou alguém que nos é caro. Pode ser a morte de uma pessoa querida, o fim de um relacionamento, a perda de um ideal ou mesmo de uma condição que definia quem somos. O luto é mais do que uma reação à perda; é um processo psíquico necessário para reorganizar o que somos diante do que se foi.

Freud, em sua obra, descreveu o luto como um movimento de retirada da energia emocional — a libido — investida no objeto perdido, para então reintegrá-la ao próprio sujeito e, futuramente, redirecioná-la a novos vínculos. Mas esse processo não é linear, nem segue um calendário fixo. Quanto tempo leva? Não há resposta exata. Cada um tem o seu tempo, o seu ritmo, e qualquer tentativa de apressar o luto tende a gerar mais sofrimento.

Frases como “meus pêsames” ou “vai ficar tudo bem” são comuns em momentos de perda. Mas, quase sempre, essas palavras não confortam. Elas refletem mais o desejo de aliviar nosso desconforto diante da dor do outro do que um real acolhimento. É como se, ao tentar consolar, estivéssemos pedindo ao outro que parasse de sofrer para que nós não nos sentíssemos tão desconfortáveis em sua presença. Lya Luft, em O Lado Fatal, escreveu com precisão: “Da minha dor, sei eu.” Talvez o ato mais sincero e empático seja reconhecer isso: a dor do outro não é nossa para entender ou diminuir, mas para aceitar e acolher.

Acolher o luto significa permitir que ele exista, em toda a sua complexidade. Significa abandonar a pressa para “resolver” ou “superar” e, em vez disso, oferecer presença e apoio silencioso. Às vezes, o gesto mais humano é simplesmente dizer: “A dor é tua, sofra e sinta o quanto precisar. Eu estou aqui.” E estar ali de fato, sem julgamentos, sem pressões, sem tentar controlar o ritmo do sofrimento alheio.

Curiosamente, permitir que o outro sofra também nos desafia a aceitar o nosso próprio luto. Em uma sociedade que valoriza a felicidade constante e a produtividade a qualquer custo, sofrer é quase um ato de resistência. Reconhecer a dor, vivê-la e respeitá-la — no outro e em nós mesmos — é um caminho de cuidado e reconexão consigo mesmo.

Para explorar esse tema com outro recorte, convido você a ouvir o episódio do Podcast Psi Por Aí, com a psicanalista Adriana Antunes, autora do livro recém-lançado A Longa Chuva. Nos vemos na próxima semana!

 

* Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura.

 

Texto publicado originalmente no Litoral na Rede: https://litoralnarede.com.br/de-quantos-lutos-e-feita-a-vida/

 

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