PODCASTEu escolhi ser mãe?

Leia a coluna da semana (12/05/2025):

Eu escolhi ser mãe?

Por Juliana Ramiro

Ainda hoje, em pleno século XXI, ser mãe nem sempre é uma escolha. Para muitas mulheres, é destino, obrigação, construção cultural. A maternidade ainda se impõe mais do que se propõe.

A filósofa francesa Elisabeth Badinter, em sua obra O conflito: a mulher e a mãe, aponta cinco grandes instituições responsáveis por fortalecer a ideia de que a maternidade é inevitável: a Igreja, o Estado, o mercado, o marido e o próprio bebê. Esses cinco pilares, juntos, constroem um cenário no qual a mulher não é, de fato, livre para decidir se deseja ou não ser mãe. A maternidade, assim, torna-se compulsória — ou, no mínimo, profundamente condicionada.

Mas não deveria ser uma escolha? Uma escolha pessoal, consciente, pensada a partir de questões como o tempo disponível, a renda, o desejo verdadeiro de educar e acompanhar o crescimento de uma criança?

Estudos recentes mostram que o custo financeiro de criar um filho pode ultrapassar os R$ 2 milhões no Brasil até os 23 anos de idade. Isso sem contar o custo emocional e o tempo investido: as mulheres ainda são, majoritariamente, as responsáveis pelo cuidado cotidiano dos filhos — mesmo quando há um companheiro presente.

A famosa “dupla jornada” há muito virou “tripla”. A mulher trabalha fora, cuida da casa e ainda assume sozinha a responsabilidade pela educação e bem-estar dos filhos. Muitas vezes, os homens dizem querer filhos, mas não necessariamente querem ser o adulto responsável por eles. A mulher, então, se vê sozinha, tentando sustentar o desejo que, muitas vezes, nem era seu.

E de onde vem esse desejo? De onde nasce o desejo de ser mãe? Da maternagem que recebemos? Das expectativas sociais? Das nossas próprias aspirações frustradas? Do lugar onde colocamos nosso narcisismo? Da fantasia de amor incondicional?

A terapia é um caminho possível — e poderoso — para investigar esse desejo. Para entender se ele é realmente nosso ou se foi imposto, modelado pelas experiências familiares, pela cultura, pelos discursos de que “toda mulher nasce para ser mãe”. A psicanálise oferece um espaço fértil para que essa escuta aconteça sem julgamentos e sem fórmulas prontas.

Ser mãe não é — e não pode ser — uma obrigação. Precisa ser uma escolha. E mais: uma escolha consciente, pensada, elaborada. Quando a maternidade vem como resposta a uma cobrança externa ou como tentativa de preencher um vazio interno, o risco de arrependimento aumenta. E esse arrependimento, por mais silenciado que seja socialmente, existe e adoece.

Para algumas mulheres, ser mãe será sim uma escolha importante, potente, transformadora. Para outras, não. E tudo bem. O que não podemos mais aceitar é que essa decisão não nos pertença.

Nesta semana, te convido para assistir o episódio do Psi Por Aí, que gravei com a psicanalista e escritora Adriana Antunes sobre maternidade.

Texto publicado originalmente no Litoral na Rede: https://litoralnarede.com.br/tag/saudemental/

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