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Leia a coluna da semana (31/03/2025):

O que cura as mulheres hoje? Escrita, saúde e liberdade

Por Juliana Ramiro*

Ao longo deste mês de março, venho refletindo nesta coluna sobre o que adoece as mulheres. Mas há outra pergunta que também importa — e muito: o que cura?

A psicanálise, desde seus primórdios, se propôs a escutar o sofrimento psíquico. E, ao fazê-lo, lançou luz sobre a relação entre sintoma e linguagem. Freud foi o primeiro a apontar que os sintomas psíquicos são formações do inconsciente — são palavras não ditas, afetos não simbolizados, desejos recalcados. No caso das mulheres, historicamente silenciadas, não é de se estranhar que o corpo tenha se tornado, muitas vezes, o lugar no qual o indizível aparece.

Diante disso, não é exagero afirmar que a fala, a escuta e a escrita tornam-se caminhos de cura. A cura, na psicanálise, não é sobre apagar o sintoma, mas sobre atravessá-lo. Como disse Jacques Lacan, “a cura é uma travessia.” E essa travessia exige que o sujeito possa construir uma narrativa sobre si, ressignificar sua história, reconhecer seus desejos.

Para muitas mulheres, a escrita cumpre exatamente esse papel: transformar dor em palavra, trauma em elaboração, silêncio em criação. Escrever é uma forma de inscrever-se no mundo. De construir uma autoria de si. Falar-se.

Mas não apenas escrever — ser escutada também é essencial. O psicanalista Winnicott, ao falar da importância do ambiente suficientemente bom, já apontava o valor de um espaço no qual se possa existir de forma verdadeira. A escuta analítica, portanto, funciona como esse continente simbólico que sustenta o processo de subjetivação. Ser escutada sem julgamento possibilita que a mulher se autorize a dizer — e, ao dizer, possa se reinventar.

Por isso, mais do que curar “as mulheres”, talvez seja necessário dizer que cada mulher encontra sua cura ao conseguir dizer de si. O que não se nomeia, adoece. O que é escutado, pode, aos poucos, transformar-se.

A escrita, nesse contexto, não é apenas expressão — é gesto clínico, gesto político e, muitas vezes, gesto de sobrevivência. É por isso que, ao longo do tempo, tantas mulheres recorreram à escrita para denunciar, resistir, sonhar e recriar. Entre palavras, muitas vezes elas se encontram, se escutam e se curam.

Para continuar essa reflexão, no episódio desta semana do Psi Por Aí, recebo a escritora, professora e doutora em Letras Débora Porto, para uma conversa sobre escrita, subjetividade e a experiência de mulheres que, ao escreverem, também se reinventam.

Para preservar a identidade e privacidade dos pacientes, os casos apresentados neste artigo são reais, com seus personagens adaptados.

* Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura.

 

Texto publicado originalmente no Litoral na Rede:  https://litoralnarede.com.br/o-que-cura-as-mulheres-hoje-escrita-escuta-e-atravessamentos-do-feminino/

 

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