PODCASTO que adoece as mulheres hoje? Violência e a dinâmica da separação

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Leia a coluna da semana (24/03/2025):

Violência e a dinâmica da separação

Por Juliana Ramiro*

Ao longo deste mês de março, tenho discutido diferentes aspectos que impactam a saúde psíquica das mulheres. Falamos sobre violência, relações, maternidade, política e mercado de trabalho. No entanto, um tema que surgiu com frequência nas interações com o público via Instagram foi a violência dentro do contexto da separação e do divórcio. Este artigo se propõe a explorar essa questão e a forma como filhos são utilizados como instrumentos para punir as mulheres.

Recentemente, um caso trágico no Rio Grande do Sul chamou a atenção para essa temática. Em Parobé, um pai supostamente tirou a própria vida e matou seus dois filhos gêmeos, de apenas seis anos, ao colidir contra um caminhão. No contexto, a mãe das crianças, ex-esposa, já havia registrado queixas contra ele, inclusive tinha uma medida protetiva, o que não restringiu o pai do convívio com os filhos acordado na separação. Indícios apontam que esse ato foi uma forma de vingança contra a mãe das crianças. Essa situação levanta uma questão essencial: por que atacar os filhos pune a mãe, mas não coíbe o pai de tal ato? Isso está diretamente relacionado à construção social que atribui às mulheres a responsabilidade principal pelo cuidado dos filhos.

O caso de Parobé é um extremo, mas comportamentos similares acontecem diariamente de forma sutil e menos visível. Homens frequentemente usam os filhos para ferir as mulheres após a separação, sem considerar o impacto emocional nas crianças. Isso se manifesta em diversas situações:

  • Negligência na criação: A sobrecarga de responsabilidades recai sobre a mãe, enquanto o pai não participa ativamente do cuidado dos filhos, reforçando a desigualdade de gênero.
  • Violência psicológica na presença dos filhos: Quando uma mulher é maltratada na frente dos filhos, além da violência direta, cria-se um ciclo de reprodução da agressão na próxima geração.
  • Não pagamento da pensão: Muitos pais se recusam a pagar a pensão não apenas por questões financeiras, mas como uma forma de punir a ex-companheira, prejudicando o bem-estar dos filhos.
  • Desrespeito aos acordos de visita: Modificação intencional dos horários de visitação para desestabilizar a rotina da mulher, impactando também a vida das crianças.
  • Falar mal da mãe para os filhos: Difamar a imagem materna ou sugerir que a separação foi culpa da mulher também são formas de manipulação emocional das crianças.

Embora esses comportamentos pareçam menos impactantes do que o caso extremo de Parobé/RS, todos fazem parte de um mesmo ciclo de violência. Pequenos atos de controle e agressão psicológica podem, em muitos casos, escalar para situações mais graves. A naturalização dessas práticas diárias contribui para a perpetuação de uma estrutura que adoece mulheres e afeta profundamente as crianças.

A reflexão sobre essa dinâmica é fundamental para interromper esse ciclo. Precisamos ampliar o debate sobre a corresponsabilidade na criação dos filhos, fortalecer redes de apoio para mães solo e garantir que a legislação seja cumprida de maneira eficaz para proteger mulheres e crianças. A sociedade deve parar de validar essas violências cotidianas para que possamos construir um ambiente mais seguro e equitativo.

Neste episódio do podcast Psi Por Aí, abordo o tema, dando exemplos e convidando o público a pensar sobre o ciclo da violência e o que adoece as mulheres e os filhos dessas mulheres quando acontece uma separação do casal.

* Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura.

 

Texto publicado originalmente no Litoral na Rede:  https://litoralnarede.com.br/o-que-adoece-as-mulheres-hoje-violencia-e-a-dinamica-da-separacao/

 

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