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Leia a coluna da semana (17/03/2025):
O que adoece as mulheres hoje? – Maternidade e relações afetivas
Por Juliana Ramiro*
O adoecimento psíquico é uma realidade que atravessa toda a população, mas nunca de forma homogênea. No texto desta semana – e nos próximos artigos do mês de março –, quero fazer um recorte de gênero. Afinal, o que adoece psiquicamente — mas não só — as mulheres hoje?
A filósofa francesa Elisabeth Badinter aponta que, historicamente, as mulheres não foram vistas como indivíduos em si mesmas, mas sempre em relação aos outros — a esposa de alguém, a mãe de alguém, a filha de alguém. E essa lógica persiste. A maternidade, por exemplo, ainda não é uma escolha genuína para muitas mulheres, mas um destino imposto.
Ao longo da história, a mulher foi colocada no papel de servidão e cuidado. No passado, recebia os filhos como “presentes divinos”, sem possibilidade de escolha ou acesso a métodos contraceptivos. Depois, tornou-se responsável por gestar o herdeiro da família. Com a Revolução Industrial, além de continuar gerando mão de obra, passou a integrar o mercado de trabalho, acumulando cada vez mais funções. Hoje, vivemos a era da “majestade, o bebê”, na qual o cuidado infantil tornou-se prioridade absoluta. Mas e a mulher que cuida? Quando chega sua vez? Cuidar de si mesma não deveria ser um privilégio, mas uma necessidade para a saúde psíquica.
O psicanalista Donald Winnicott cunhou a expressão “mãe suficientemente boa”, referindo-se à mãe que não é perfeita, mas que atende às necessidades do filho de maneira satisfatória. Mas e o ambiente em que essa mãe está inserida, ele é suficientemente bom para ela? Quem cuida de quem cuida?
A maternidade deveria ser compartilhada. Quando nasce um bebê, nasce uma mãe e, nas famílias heteronormativas, deveria nascer também um pai – outro adulto igualmente responsável pelo cuidado desse novo ser. Mas o que vemos na prática? Em muitos casos, mulheres acompanhadas, que vivem uma maternidade solo, sobrecarregadas, porque assumem sozinhas os cuidados com o filho ou porque são as únicas responsabilizadas por qualquer dificuldade que ele apresente.
No universo da psicanálise e da saúde mental, muito se fala sobre mães que fazem mal: mães psiquicamente mortas, mães geladeira, mães narcisistas. Sim, elas existem. Mas onde estão as discussões sobre os pais inadequados? Pouco se fala sobre pais ausentes, pais narcisistas, pais que não são referência de lei e estrutura, pais que não são coisa alguma. Essa ausência não apenas impacta as crianças, mas também adoece as mulheres, que vivem sob constante pressão e culpa. A sobrecarga é insustentável, e o adoecimento se torna inevitável.
Para falar sobre maternidade e adoecimento psíquico das mulheres, e pensar alternativas para os cenários que se apresentam hoje, convidei a psicanalista Adriana Antunes para conversar comigo no episódio do Psi Por Aí desta semana.
E te convido, ao longo deste mês de março, a ouvir outras mulheres no Psi Por Aí, em conversas sobre gênero, maternidade e violência. Seguimos refletindo sobre o que adoece – e o que pode curar – as mulheres.
* Juliana Ramiro é psicanalista, doutora em Letras, e uma apaixonada por música e literatura.
Texto publicado originalmente no Litoral na Rede: https://litoralnarede.com.br/o-que-adoece-as-mulheres-hoje-maternidade-e-relacoes-afetivas/
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